segunda-feira, 27 de julho de 2015

Ayrton Senna Odiava Terno e Gravata

Trecho extraído do livro “Caminho das Borboletas” de Adriane Galisteu

Apesar de odiar usar terno e gravata, esses trajes caiam muito bem em Ayrton
Ayrton Senna em Paris/França, 09 de dezembro de 1993
Foto: Gerard Fouet

Acabei me saindo razoavelmente com os hashi, naquele restaurante maravilhoso, do próprio hotel, mas ao ar livre, perfumado pelos aromas de jardim japonês, com acesso entre pontezinhas charmosas e tortuosos caminhos de pedra. Não tive coragem de experimentar peixe cru, mas me deliciei com um camarão feito na chapa - capturado vivo, enorme, ali mesmo num aquário. Eu pensava: "Coitadinhos dos bichinhos". Mas foi a refeição mais deliciosa de que me lembro em toda a minha vida - disparada na frente até dos meus maníacos Big Macs, posso confessar. Nossos quatro anfitriões, todos homens, curvando-se e recurvando-se em gentilezas, trouxeram de presente uma câmera fotográfica. Estavam todos muito formais, de terno escuro e gravata. Todos, inclusive o Ayrton. Quando nos despedimos e subimos para nossa última noite japonesa, a primeira coisa que Béco fez foi arrancar a gravata, com força:

- Tenho ódio de terno e gravata - disse.

Não é esse, com certeza, em meio a um cenário de sutilezas japonesas e lembranças bonitas, o melhor momento para protestar contra um pequeno detalhe do triste dia do enterro de meu Béco. Mas vá lá: achei um absurdo, fiquei horrorizada, quando soube que o vestiram com terno e gravata. Quem sou eu para conhecer - e mesmo para acreditar - alguns mistérios do universo, mas pensei, com ternura, comigo mesma:


- Se daqui do esquife ele tiver que se apresentar em algum outro lugar, alguma outra dimensão, outra esfera, vai ficar furioso em se ver nesses trajes.

Ayrton Senna em Paris/França, 09 de dezembro de 1993
Foto: Reprodução



FONTE PESQUISADA

GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A., novembro de 1994. 

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