domingo, 28 de setembro de 2014

O Rei do Aeromodelo e da Pole Position

04/11/2010 às 1:43
Veja - veja.abril.com.br

Numa ensolarada manhã de sábado, dezembro de 1984, o magro e um tanto circunspecto piloto de Fórmula 1, que acabara de anunciar que defenderia a mítica equipe da Lotus em 1985, Ayrton Senna franzia a testa ao saber que havia um jornalista dentro do estacionamento do kartódromo de Interlagos. De imediato avisou: “Pode tirar uma foto mas, desculpe, não vou falar nada.”

Senna com sua "pipa" 


Eram as primeiras férias de Senna na Fórmula 1 e ele acabara de comprar suas mais novas máquinas, três aeromodelos com controle remoto, um deles um helicóptero. Por algumas horas, ele não tirava os olhos dos brinquedos enquanto fazia manobras radicais, subindo e descendo o mais rápido que podia. Ficou um tanto inibido com a minha presença, absolutamente casual -  morava a 400 metros da entrada principal do kartódromo e passava por ali a caminho da casa da minha irmã e, ao perceber a forte movimentação, decidi entrar. Cansou, se irritou com a minha permanência ali e resolveu ir embora.

Senna era apaixonado por aeromodelismo


Além de ter a sorte de flagrar o futuro tricampeão num momento especial, um dos privilégios que tive foi ver ao vivo algumas dezenas de classificações para a pole position – matéria em que Senna era mestre, num tempo em que se usavam os pneus mais rápidos, o motor mais forte, o melhor acerto aerodinâmico para ganhar velocidade. O resultado quase sempre era um uníssono som de surpresa e admiração seguido por palmas de pelo menos quatro centenas de jornalistas na sala de imprensa de um autódromo pelo mundo.

As corridas de Senna eram espetaculares, mas as classificações eram ainda mais. A impressão é que ninguém respirava enquanto Ayrton acelerava e pulverizava retas e engolia as curvas, por mais travadas que fossem, em busca da sua flying lap – volta voadora. Largou na primeira posição 65 vezes em 161 GPs disputados (só atrás de Michael Schumachaer, que tem 68 poles mas em 265 corridas (sem contar as duas últimas de 2010).

A capacidade que tinha em fazer com que carros ruins andassem rápido era a sua maior qualidade. Conseguia baixar o tempo guiando qualquer coisa. Assim se destacou rapidamente na Toleman, passando em seguida para a Lotus e depois McLaren. Mas não era simplesmente um dom, ele trabalhava muito. Em quase dois acompanhando corridas e testes de equipe pela Europa, quase sempre Ayrton era o primeiro a chegar no circuito e o último a sair, fosse para testar pneu, resistência do carro ou alguma certo de suspensão, sempre uma jornada monótona, animada para ele somente no  fim do dia na reunião com os engenheiros.

Um profissional obcecado e o piloto mais rápido que vi ao volante de um Fórmula 1.

(Por Silvio Nascimento)



FONTE PESQUISADA

NASCIMENTO, Silvio. O rei do aeromodelo e da pole position. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/veja-acompanha/gp-brasil-de-formula-1/o-rei-da-pole-position/>. Acesso em: 01 de setembro 2014.

















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